terça-feira, 5 de outubro de 2010

Odeio dias em que o céu me faz viajar até longe...

Odeio dias em que o céu me faz viajar até longe.
Odeio-os porque me levam para sítios onde eu nunca estive ou para instantes que deviam ter ficado perpetuados, para sempre...
Odeio-os porque qualquer som que a minha audição seja capaz de sentir me vão deixar ou profundamente feliz, ou esmagadoramente deprimida.
Odeio-os porque não existem sentimentos neutros.
Odeio-os porque o mundo parece cair-me aos pés e porque, justamente, aos meus pés parece abrir-se uma cratera do tamanho do mundo.
Odeio-os porque não consigo dizer nada de jeito e porque tudo o que me possam dizer vai soar-me mal.
Odeio-os porque a noite é mais fria e o dia mais quente, mesmo que o termómetro diga o contrário.
Odeio-os porque o mar fica triste comigo e porque nesses dias eu amo estupidamente o mar.
Odeio-os porque eu fico triste com o mar e porque o nesses dias o mar me ama estupidamente.
Odeio-os porque fico a morrer de tédio mas quando vem a oportunidade de fazer qualquer coisa que me tire deste estado anómico, não me apetece.
Odeio-os porque adoro a maneira como me mentem, como me fazem promessas que nunca serão cumpridas.
Odeio-os porque são a minha única verdade.
Odeio-os porque são o presente, e o presente não me basta.
Odeio-os porque a 25 de Abril continua intacta sobre o Tejo.
Odeio-os porque talvez um dia a 25 de Abril não fique mais intacta sobre o Tejo.
Odeio-os porque as distancias são cada vez mais longas.
Odeio-os porque a cada minuto que passa mais minutos me separam do meu primeiro grito.
Odeio-os porque não me deixam gritar.
Odeio-os porque os carros passam repetidamente.
Odeio-os porque o doce me parece demasiado doce.
Odeio-os porque o salgado está estranhamente insosso.
Odeio-os porque a gravidade está contra o meu cabelo.
Odeio-os porque a cabeça me doí.
Odeio-os porque os hospitais estão apinhados.
Odeio-os porque as flores não cheiram a flores.
Odeio-os porque o Zé da esquina me liga 50 vezes.
Odeio-os porque a Maria Papoila nem uma mensagem me mandou.
Odeio-os porque tenho uma família.
Odeio-os porque não tenho alguma família.
Odeio-os porque o Facebook está uma seca.
Odeio-os porque não estão no You Tube os vídeos que eu quero ver.
Odeio-os porque os aviões passam menos vezes.
Odeio-os porque os pássaros não levantam voo.
Odeio-os porque parece que não sei escrever.
Odeio-os porque não tenho ninguém com quem conversar.
Odeio-os porque apareceu alguém com quem conversar e agora não sei o que conversar.
Odeio-os porque não sei cantar.
Odeio-os porque não sei dançar.
Odeio-os porque nunca ninguém me deu uma estrela.
Odeio-os porque não existem estrelas.
Odeio-os porque os filmes não passam disso.
Odeio-os porque ninguém quer ver filmes giros.
Odeio-os porque não tenho um gato.
Odeio-os porque não me apetece fazer nada.
Odeio-os porque o azul parece-me mais claro e o vermelho menos vivo.
Odeio-os porque as pessoas parecem vivas, mas sem vida.
Odeio-os porque a televisão não dá nada que preste.
Odeio-os porque na rádio passam sempre as mesmas músicas.
Odeio-os porque os auto-carros nunca andam no horário certo.
Odeio-os porque nunca vi os Radiohead.
Odeio-os porque as pedras estão espalhadas.
Odeio-os porque tenho a carteira cheia de papeis.
Odeio-os porque a minha agenda está cheia de acontecimentos parvos.
Odeio-os porque não há pão de azeitonas.
Odeio-os porque não sei como acabar os post's.
Odeio-os porque tenho que acabar este post e não me apetece.

Hoje o céu está estranho.
Hoje o céu faz-me viajar até muito longe.

2 comentários:

oguardador disse...

Sentes. Amor ou ódio aos dias. Viajar é sempre bom.

catarina ferreira disse...

Ora aí está uma grande verdade!