segunda-feira, 28 de março de 2011

O rapaz de casaco azul

São 8:12 da manhã de um dia tão normal como qualquer outro.
Vou no autocarro que me leva à primeira manhã de trabalho desta semana, não sem antes me roubar três quartos de hora, sentada a ouvir música, a ver passar os transeuntes desta cidade que às segundas de manhã se torna menos simpática, pelo menos para mim.
Ele entrou, mais ou menos a meio do percurso, sentou-se no lugar que impreterivelmente se reserva a ele quase sempre: o lugar exactamente à minha frente. Vem com um ar cansado e menos simpático - parece que a segunda -feira também o afectou - mas mantem-se a intensidade naqueles dois olhos que parecem um poço sem fim de amargura.
Gosto de observar as pessoas. Gosto mais de pensar que estou a fazer um estudo sociológico, em vez de estar apenas a satisfazer a minha voraz curiosidade que não se cala se não lhe faço a vontade. Observo-o repetidamente, tal como o fiz em todos os dias da semana passada e quase desde o inicio do mês...
Trás o mesmo casaco azul de sempre. Está cabisbaixo e pressiona as alças da mochila como quem quer descarregar toda a energia negativa que acumulou ao longo destes (23/24??) anos. Que raio! Quem havia de merecer tão malfadada vida? É praticamente um miúdo e já parece que carrega uma cruz do tamanho do mundo. Não é...não me parece justo...
Chegou ao fim da sua viagem. Despede-se com um piscar de olhos e sai. Não sei sequer o seu nome. Nunca trocamos uma palavra, mas não interessa, porque ambos sabemos que nos vamos encontrar amanhã, no mesmo sítio, à mesma hora.