quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Bernardo

Já conheci, por aí, muitos Bernardos. Daqueles que nos emprestam o casaco, dos que nos abrigam da chuva e sentem o frio para nos proteger, dos que nos agarram pela cintura e encostam a testa, dos que nos fazer sorrir e dar muitas gargalhadas, dos que nos mexem no cabelo, dos que sabem ter conversas intermináveis sobre nada de especial, dos que sabem cantar, dos que sabem o que queremos mesmo antes de nós mesmas o sabermos, dos que nos fazem corar, dos que nos percebem com um único olhar, dos que nos sabem ler nas entrelinhas, dos que metem conversa em lugares estranhos, dos que não falam porque são tímidos, dos que estão sempre lá para nos aturar, dos que nos sabem agradar.
Um Bernardo é só por si tudo isto e mais um bocadinho. Um Bernardo é tão idílico, platónico e petrarquista que não se sabe possuidor de características nefastas.
Acontece, porém, que os Bernardos estão em vias de extinção. São, portanto, um achado e quando encontramos o Bernardo da nossa vida há que agarrar o bicho e defende-lo com unhas e dentes.

Eu tive a sorte de conhecer muitos Bernardos, mas existe um, o menos Bernardo de todos eles, que se destaca para mim. Não pelas características Bernardistas, mas justamente pelo defeito na posse destas. Não é o Bernardo perfeito, mas é o menos irreal.
De qualquer modo, continua a ser platónico este meu Bernardo, porque quando mais próxima estou dele, mais afastados estão os nossos caminhos.


terça-feira, 30 de agosto de 2011

E agora?

Quando, algures no início de 2005, o meu pai leu um texto escrito por mim para um qualquer trabalho de escola, disse que eu daria uma boa jornalista. Pouco tempo depois, expressou que era de sua vontade que eu continuasse os estudos no ensino superior.
Estava eu no inicio do 10º ano e a minha vida ganhou um propósito: Licenciar-me, muito mais pela vontade do meu pai, que pela minha.
Pois bem, passaram-se alguns anos e eu estou a terminar a licenciatura em sociologia, a terminar o meu estágio numa empresa de recursos humanos, na área de formação profissional e, o grande propósito da minha vida está, também, a chegar ao fim.
Agora estou num grande impasse. O que fazer agora?
Volto para a minha casa?
Fico por cá?
Procuro trabalho onde?
Sei fazer o quê?
Quero fazer o quê?
Que novo propósito vai ter a minha vida?
O que fazer agora?

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Pedaço de sorriso do Alvim

Esta coisa de gostar de alguém não é para todos e, por vezes – em mais casos do que se possa imaginar – existem pessoas que pura e simplesmente não conseguem gostar de ninguém. Esperem lá, não é que não queiram – querem! – mas quando gostam – e podem gostar muito – há sempre qualquer coisa que os impede. Ou porque a estrada está cortada para obras de pavimentação. Ou porque sofremos de diabetes e não podemos abusar dos açucares. Ou porque sim e não falamos mais nisto. Há muita gente que não pode comer crustáceos, verdade? E porquê? Não faço ideia, mas o médico diz que não podemos porque nascemos assim e nós, resignados, ao aproximar-se o empregado de mesa com meio quilo de gambas que faz favor, vamos dizendo: “Nem pensar, leve isso daqui que me irrita a pele”.

Ora, por vezes, o simples facto de gostarmos de alguém pode provocar-nos uma alergia semelhante. E nós, sabendo-o, mandamos para trás quando estávamos mortinhos por ir em frente. Não vamos.. E muitas das vezes, sabendo deste nosso problema, escolhemos para nós aquilo que sabemos que, invariavelmente, iremos recusar. Daí existirem aquelas pessoas que insistem em afirmar que só se apaixonam pelas pessoas erradas. Mentira. Pensar dessa forma é que é errado, porque o certo é perceber que se nós escolhemos aquela pessoa foi porque já sabíamos que não íamos a lado nenhum e que – aqui entre nós – é até um alívio não dar em nada porque ia ser uma chatice e estava-se mesmo a ver que ia dar nisto. E deu. Do mesmo modo que no final de 10 anos de relacionamento, ou cinco, ou três, há o hábito generalizado de dizermos que aquela pessoa com quem nós nos casámos já não é a mesma pessoa, quando por mais que nos custe, é igualzinha. O que mudou – e o professor Júlio Machado Vaz que se cuide – foram as expectativas que nós criamos em relação a ela. Impressionados?


Pois bem, se me permitem, vou arregaçar as mangas. O que é difícil – dizem – é saber quando gostam de nós. E, quando afirmam isto, bebo logo dois dry martinis para a tosse. Saber quando gostam de nós? Mas com mil raios, isso é o mais fácil porque quando se gosta de alguém não há desculpas nem “ ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho”, nem “ ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada” nem “ ai que não vi a tua chamada não atendida”.

Quando se gosta de alguém – mas a sério, que é disto que falamos – não há nada mais importante do que essa outra pessoa. E sendo assim, não há sms que não se receba porque possivelmente não vimos, porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque a minha amiga não me deu o recado, porque não percebi que querias estar comigo, porque recebi as flores mas pensava não serem para mim, porque não estava em casa quando tocaste.

Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de uma multidão de gente. Quando se gosta de alguém não respondemos a uma mensagem só no final do dia, não temos acidentes de carro, nem nunca os nossos pais se sentiram mal a ponto de nos impossibilitarem o nosso encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campainha da porta, lemos sempre a mensagem que nos deixaram no vidro embaciado do carro desse Inverno rigoroso. Quando se gosta de alguém – e estou a escrever para os que gostam - vamos para o local do acidente com a carta amigável, vamos ter com ela ao corredor do hospital ver como estão os pais, chamamos os bombeiros para abrirem a porta, mas nada, nada nos impede de estar juntos, porque nada nem ninguém é mais importante, do que nós.

[Essa coisa de gostar de alguém - Fernando Alvim]


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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Desculpem lá se...

...eu não gosto de palhaços!
Não gosto e não tenho nenhum motivo. Não gosto e acabou a conversa.
Provavelmente é porque apesar de parecerem felizes, de fazerem os outros felizes, de sorrirem constantemente, de fazerem os outros sorrir (como na imagem), os associo SEMPRE a coisas menos simpáticas, a perdas e a uma profunda amargura de quem está preso à personagem e não pode ser a pessoa.