quarta-feira, 25 de maio de 2011

quinta-feira, 19 de maio de 2011

"Não há almoços grátis"

Existe, desde que o Homem é Homem, uma dura e forte negociação entre este ser e os seus semelhantes. Cada uma dessas negociações consiste num pedido e na satisfação do mesmo tendo como troca a paga na mesma moeda. No seu conjunto, deram origem ao mais internacional Banco: o BANCO DE FAVORES.
Mexe com a vida das pessoas e faz o mundo girar. Faz mortos, dá prazer, traz poder...Tanto dá como tira. Nunca sabemos o real valor das transacções que realizamos, ainda que tenhamos consciência de que cada movimento de conta tem um valor diferente. Nunca sabemos, na realidade, quando temos as nossas dívidas saldadas e qual é o nosso saldo corrente, sabemos apenas a quem devemos e, claro está quem nos deve. Quem já nos pagou tudo o que tinha a pagar, quem nos vai pagando aos bochechos e quem sua as estupinhas, mas nem por sombras está perto de quitar as dívidas.

Na sua obra "O Zahir" Paulo Coelho explica como ninguém o que eu almejo que compreendam:


O que é banco de favores?

- Você sabe. Todo ser humano conhece.

- Pode ser, mas ainda não consegui entender o que está dizendo.

- Foi mencionado em um livro de um escritor americano. É o banco mais

poderoso do mundo. Está presente em todas as áreas.

- Venho de um país sem tradição literária. Não poderia fazer favor para

ninguém.

- Isso não tem a menor importância. Posso lhe dar um exemplo: eu sei que

você é alguém que vai crescer, terá muita influência um dia. Eu sei porque já fui

como você, ambicioso, independente, honesto. Hoje estou sem a energia que

tinha antes, mas pretendo ajudá-lo porque não posso ou não quero ficar parado,

não sonho com a aposentadoria, sonho com esta luta interessante que é a vida, o

poder, a glória.

“Começo a fazer depósitos na sua conta – estes depósitos não são em

dinheiro, mas em contactos. Apresento você a tal e tal pessoa, facilito certas

negociações – desde que sejam lícitas. Você sabe que está me devendo alguma

coisa, embora eu jamais cobre nada.”

- E um dia…

- Exatamente. Um dia, lhe peço algo, você pode dizer não, mas sabe que

está me devendo. Fará o que peço, eu continuarei ajudando, os outros saberão

que você é uma pessoa leal, farão depósitos em sua conta – sempre contactos,

porque este mundo é feito de contactos, e nada mais. Também lhe pedirão algo

algum dia, você irá respeitar e apoiar quem o ajudou, com o passar do tempo terá

sua teia espalhada por todo o mundo, conhecerá todos que precisa conhecer, e

sua influência crescerá cada vez mais.

- Ou então me recuso a fazer o que você me pediu.

- Claro. O Banco de Favores é um investimento de risco, como qualquer

outro banco. Você se recusa a fazer o favor que lhe pedi, achando que o ajudei

porque você merecia, você é o máximo, todos nós temos obrigação de reconhecer

seu talento. Bem, eu agradeço, peço a outra pessoa onde fiz depósitos em sua

conta, mas a partir deste momento todo mundo sabe, sem que seja preciso dizer

nada, que você não merece confiança.

“Pode crescer até a metade, mas não crescerá tudo que pretende. Em um

dado momento, sua vida começa a declinar, você chegou à metade e não chegou

até o final, está meio contente e meio triste, não é nem um homem frustrado nem

um homem realizado. Não é frio nem quente, você é morno e, como diz algum

evangelista em algum livro sagrado, coisas mornas não afetam o paladar.”

Bem tudo isto para vos explicar que sempre pensei nunca estar envolvida neste jogo de interesses. Nunca pensei estar enredada neste Banco e que a minha conta nunca tivesse sido aberta. Hoje apercebi-me de que já nascemos envoltos neste sistema e que o volume das minhas dívidas ultrapassa em muito o saldo que alguma vez poderei ter tido em conta...